ATA DA TRIGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 06.10.1987.
Aos seis dias do mês de
outubro do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões
do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima
Quinta Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona
Legislatura, destinada a homenagear os 105 anos da Gazeta de Alegrete. Às
dezesseis horas e trinta e sete minutos, contatada a existência de “quorum”, o
Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a
conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a
Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre;
Verª. Teresinha Irigaray, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre;
Dr. Adão Faracco, Secretário Estadual dos Transportes, representando, neste
ato, o Sr. Governador do Estado, Dr. Pedro Simon; Dr. Nilo Soares Gonçalves,
Prefeito Municipal de Alegrete; Dr. Heitor Galant, Diretor da Gazeta de
Alegrete; Sr. Antonio Firmo de Oliveira Gonzales, Vice-Presidente da Associação
Rio-grandense de Imprensa, no exercício da presidência; Jorn. José Roberto
Ramos, Assistente de Direção da Gazeta de Alegrete; Dr. Suleiman Guimarães
Hias, Diretor da Farsul, representando, neste ato, o Presidente da Farsul, Dr.
Ari Marimon;Sr. Antonio Augusto Fagundes, Diretor do Instituto Gaúcho de
Tradição e Folclore; Dep. Jarbas Lima; Dep. Athos Rodrigues; Ver. Pedro Ruas,
proponente da Sessão e, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, foi
apresentado o audiovisual “Gazeta de Alegrete - 100 anos”. Em continuidade, o
Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa.
O Ver. Pedro Ruas, em nome das Bancadas do PDT, PSB e PL, falou sobre o
convívio que possui com o Jornal Gazeta de Alegrete, destacando ser este um dos
mais antigos jornais da América Latina. Reportou-se à fundação da Gazeta de
Alegrete pelo Barão de Ibirocahy, dizendo da importância do mesmo para o povo
alegretense, como fonte de informações dos fatos acontecidos dentro e fora
daquela comunidade.Ao finalizar, disse que esse jornal retrata diariamente a
garra e a força dos homens e mulheres alegretenses. O Ver. Hermes Dutra, em
nome da Bancada do PDS, registrou a presença, no Plenário, dos Vereadores
Mozart Costa, Presidente da Associação Gaúcha de Vereadores do PDS e de Luci
Monteiro, de São Francisco de Assis. Congratulou-se com o Jornal Gazeta de
Alegrete pelos seus cento e cinco anos, dizendo ser ele um dos mais antigos
órgãos de comunicação escritos em português. Relembrou os primeiros tempos
deste jornal e as dificuldades por ele enfrentadas, discorrendo sobre seu
fundador, Luis de Freitas Valle, o Barão de Ibirocahy. Registrou pedido do Dep.
Jarbas Lima para que fizesse seu pronunciamento também em nome desse deputado e
dos deputados estaduais da Bancada do PDS. O Ver. Eroni Carus, em nome das
Bancadas do PMDB e do PC do B, disse sentir-se duplamente honrado em poder
homenagear, nesta ocasião, o Jornal Gazeta de Alegrete pela passagem de seus
cento e cinco anos, em face de ser oriundo das terras alegretenses. Teceu breve
histórico sobre a fundação desse jornal, seus objetivos e fundadores, citando o
Barão de Ibirocahy. Ao final, salientou a figura do Dr. Heitor Galant, Diretor
da Gazeta de Alegrete, o qual muito contribuiu para a manutenção, até hoje,
desse jornal. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB, comentou que a
comemoração dos cento e cinco anos do Jornal Gazeta de Alegrete nos levam a
reflexões profundas, pois um jornal se parece com uma caricatura humana e como
ela tem longa vida ou não. Destacou que, fundado sob a égide da política, esse
jornal deve ter passado por momentos de apogeu e declínio mas que permanece até
hoje e ainda jovem, por refletir os fatos da vida de sua comunidade. Saudou o
jornal como Vereador e como homem de imprensa, augurando que ele se mantenha
fiel aos seus propósitos e possa representar no futuro aquilo que desejamos
para o Rio Grande do Sul. O Ver. Raul Casa, em nome da Bancada do PFL, declarou
que o merecido destaque que esta Casa dá ao transcurso dos cento e cinco anos
do Jornal Gazeta de Alegrete decorre do espírito empreendedor, dos princípios e
do que esse jornal representa para o jornalismo gaúcho. Congratulou-se com o
Ver. Pedro Ruas pela iniciativa da presente Sessão. E o Ver. Antonio Hohlfeldt,
pela Bancada do PT, ressaltou o significado desta Sessão, enfatizando a
importância da Gazeta de Alegrete, como elemento transmissor de idéias e fatos.
Discorreu, como jornalista, sobre o papel da imprensa enquanto meio de
comunicação que pode mudar o pensamento e o curso da história. Falou da
necessidade de reflexão, por parte dos profissionais da imprensa, sobre quais
os fatos a levar ao conhecimento do público e a avaliação dos mesmos, bem como
de suas conseqüências junto à comunidade. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a
palavra aos Senhores Adão Faracco e José Roberto Ramos, que discorreram sobre a
história e a importância do jornal Gazeta de Alegrete para o povo gaúcho. Em
continuidade, o Sr. Presidente faz pronunciamento alusivo ao evento, convidou
as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e,
nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezenove horas e um minuto,
convocando os Senhores Vereadores paa a Sessão Ordinária de amanhã, à hora
regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Brochado da Rocha e
secretariados pelo Ver. Pedro Ruas, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Pedro Ruas,
Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e
aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 2º Secretário.
O SR. PRESIDENTE: Antes de passarmos a palavra
ao primeiro orador, assistiremos a um audiovisual: “Gazeta de Alegrete - 100
anos”.
(Passa-se à exibição do audiovisual.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Pedro
Ruas, que falará em nome do PDT, PSB e PL.
O SR. PEDRO RUAS: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. Convidados:
“Um homem, do alto de uma cachoeira, olhava admirado a força com que as
águas caíam e rolavam em verdadeiro turbilhão. Espantado, notou no meio das
ondas, um pequeno barco tentado vencer a corrente e subir o rio.
Ao ver o estranho espetáculo, exclamou:
- Felizmente alguma coisa vence a correnteza...”
Foi na casa de meu avô, Euclides Fagundes, lá no Alegrete, que vi pela
primeira vez o jornal da terra, a Gazeta de Alegrete. Criança ainda, lendo com
dificuldade, tive que me esforçar bastante para ler as notícias políticas em
voz bem alta e clara, pedido que me fôra feito sem contestação.
Desde então meu convívio com a Gazeta tem sido constante. E se me fosse
permitido mostrar ao meu avô, que eu cresci e me fiz adulto, que leio bem e que
sei muita coisa sobre este jornal, sua leitura predileta, certamente isto o
faria muito feliz.
A Gazeta de Alegrete, fundada por Luiz Freitas Valle em 1882, está em
circulação, na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul e no Brasil, há 105
anos.
É o mais antigo jornal do Estado e dos mais antigos do Brasil e de toda a América Latina.
As criações humanas podem surpreender e de fato surpreendem todos os
que, de uma forma ou de outra, favoreceram seu aparecimento.
Será que os inventores da fotografia, do rádio, poderiam imaginar o
milagre da televisão?
E Guttemberg, criando formas para imprimir a Bíblia, pensaria que a
humanidade fosse alcançar tão elevados níveis de tecnologia e aperfeiçoamento,
em termos de imprensa?
Degrau por degrau a Gazeta de Alegrete anda há 105 anos. Noticiando; Denunciando; Organizando;
Coordenando.
Acompanhando o Alegrete com o registro permanente dos acontecimentos que fazem o seu dia a dia e que contam a sua história.
O Alegrete, como cidade, existiu sem a Gazeta, por apenas 25 anos.
E sempre avançando.
Quanta coisa já viu!
Luiz de Freitas Valle teve destacada posição em Alegrete. Além de ter o
jornal da cidade, ele governou o município na qualidade de Presidente da Câmara
de Vereadores. Foi líder político, destacando-se como incentivador de inúmeras
obras beneficentes, inclusive da Santa Casa de Caridade.
Desde cedo participou de movimento abolicionista e, na direção do Clube
Emancipador, lutou pela abolição dos escravos.
Quando da decretação da Lei Áurea, em Alegrete já não existiam mais
escravos, graças ao empenho deste bravo brasileiro, que, por sua atuação na abolição
da escravatura e por sua luta sem tréguas através do jornal que fundara, a
Gazete de Alegrete, recebeu da
Princesa Isabel, o título de Barão de Ibirocahy.
Em 1917, quando a Gazeta estava completando 35 anos, o Barão de
Ibirocahy enviou a última mensagem ao jornal que criara e ao povo alegretense,
seus conterrâneos. Junto com agradecimentos pela homenagem recebida, evocava
“os bons tempos de lutas vividas na terra natal, com amigos e companheiros.”
O nome deste ilustre alegretense, que tão alto soube elevar seu torrão
natal, está perpetuado à posteridade, como gratidão de seus patrícios, em
diversas artérias e estabelecimentos escolares do município.
A bandeira desfraldada pelo fundador da Gazeta de Alegrete -
“Liberdade, ontem. Liberdade de uma raça, hoje. Liberdade de pensamento e
independência de consciência, sempre” - continua norteando o Grupo Jornalístico
Gazeta de Alegrete, na busca incessante da notícia, no registro diário da
história da cidade e de sua gente.
É no jornal, nesta extraordinária forma de comunicação social, que os estudiosos e pesquisadores, todos aqueles que se dispõem a escrever livros sobre a vida de pessoas, de lugares, de fatos marcantes, acontecimentos políticos, vão buscar as informações que precisam.
A fonte que existe nas páginas da Gazeta de Alegrete é verdadeiro
manancial de registro da mais pura história registrada em suas páginas desde 1º
de outubro de 1882.
A Gazeta viu e publicou a libertação dos escravos. Comentou os momentos
decisivos da Proclamação da República. Registrou os sangrentos episódios de
1893, alguns desenvolvidos ali mesmo no Alegrete. Enfrentando as dificuldades
das precárias formas de comunicação de época, apresentou, sempre que possível,
notícias sobre a Primeira Grande Guerra. Foi acompanhante, através de suas
páginas, dos tempos difíceis de 1923...1930, quando o país iniciava a grande
marcha na busca de um maior desenvolvimento.
Apresentou poemas para os pracinhas brasileiros, sem deixar de noticiar
os principais acontecimentos da Segunda Grande Guerra.
A Gazeta de Alegrete, verdadeira bandeira de luta nestes 105 anos,
destacou figuras, analteceu conquistas, festejou com júbilo as vitórias. Em
suas páginas houve sempre lugar de destaque para iniciativas que se
consolidaram em benefício do povo alegretense.
Realçou nas manchetes episódios marcantes e feitos notáveis da história
de Alegrete e do Rio Grande do Sul.
Contra inúmeras dificuldades, há mais de um século existe este jornal
pioneiro, hoje já símbolo de um povo, de uma comunidade, da garra dos homens e
mulheres alegretenses.
“Felizmente alguma coisa vence a correnteza”.
Eu te saúdo, Gazeta de Alegrete, na passagem de mais este aniversário.
Rendo minhas homenagens aos teus diretores, os que tens agora, os que te dirigiram no passado.
Louvo teus jornalistas e funcionários.
Congratulo-me com o povo de Alegrete que contigo coopera, inspirando e
dando força para que continues a circular sempre por suas ruas, avenidas,
esquinas e praças.
Valho-me nesta oportunidade das expressões do grande tribuno gaúcho,
que teve destacada vivência em Alegrete, Dr. Rui Ramos:
- “Que Deus nos ajude a sentir e a pensar. Sobretudo a pensas, pois
nestas horas sombrias só o pensamento é capaz de abrir para o futuro as
estradas da esperança.”
Senhoras e Senhores:
Vivemos o tempo da Constituinte e se espera no país a marca do novo.
Mas, é claro, nem o Brasil nem suas instituições estão nascendo agora. Há em
tudo uma herança deixada à nação como fruto do trabalho dos seus filhos,
especialmente aqueles que souberam contemplar ao longe o horizonte e avançaram
no tempo.
É sempre oportuno lembrar a figura dos idealizadores e pregadores de
idéias que acreditaram no futuro, até mesmo contra o impossível.
O Grupo Jornalístico da Gazeta de Alegrete está entre eles.
É verdade.
“Felizmente alguma coisa vence a correnteza”. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Hermes
Dutra, que falará em nome do PDS.
O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e senhores convidados. São 105 anos, e conta-se que existe gente que
senta na Praça da Alfândega e pega exemplares do “Financial Times”; outros
pegam exemplares do “Times”; outros do “New York Times”. Mas dizem que aqueles
que querem-se exibir mais ainda sentam num dos bancos da Praça e abrem a “Gazeta
de Alegrete”. A Gazeta de Alegrete celebrou, no dia 1º de outubro, cento e
cinco anos de existência e informação. Trata-se do mais antigo jornal em
circulação no Rio Grande do Sul, do terceiro mais antigo do interior do Brasil,
e oitavo em antigüidade no Brasil, e uma das cinco publicações mais antigas em
língua portuguesa, em todo o mundo. Tais atributos de antigüidade e qualidade,
certamente habilitam a Gazeta de Alegrete como um dos órgãos informativos que
maior admiração e carinho merecem do mundo jornalístico. Transporte-mo-nos, na
medida do possível, é claro, há cento e cinco anos atrás. Era ainda pleno tempo
do Segundo Império, tempo de escravatura, de dificuldades quase insuperáveis
nos transportes, nas escolas escassas, de informações levadas até a lombo de
cavalo, quando a estrada de ferro ainda não cortava o Rio Grande. Nesse tempo,
a Capital da Província, Porto Alegre, um que outro periódico circulava, e só
chegava ao interior com enorme atraso e grande insegurança.
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, recebi, ontem à tarde, um telefonema
do ilustre Deputado Jarbas Lima, que está nesta Mesa participando desta Sessão,
pedindo que, ao falar, hoje, em nome da Bancada do PDS na Câmara Municipal, o
fizesse também em nome da Bancada dos deputados estaduais com assento na
Assembléia Legislativa, dado o grande apreço que têm os parlamentares do PDS,
com assento na Assembléia, pela Gazeta do Alegrete, e é coisa que faço com
muito prazer, com satisfação até, e creia, serve para engrandecer o modesto
pronunciamento deste Vereador.
Mas, voltemos há um século atrás, naquelas circunstâncias que citava,
no ano de 1882, que o comerciante político, Luiz de Freitas Valle, filho de
Alegrete, ou para usar uma expressão que todos nós usamos vocalmente, filho do
Alegrete, fundou o novo jornal, de marcada tendência abolicionista e
progressista. O seu anti-escravagismo conseguiu que surgisse, naquela época, o
Clube Emancipador, que pugnava pela abolição imediata de qualquer tipo de
escravatura e que obteve tanto sucesso que, quando a publicação da Lei Áurea,
já não existiam mais escravos em Alegrete.
Falo, não com a satisfação do Ver. Pedro Ruas, feliz autor da idéia da
Sessão, e que conheceu o jornal na casa do seu avô, e nem com a satisfação do
Ver. Erony Carus, que falará mais tarde, como filho da terra, mas lhes falo
como um filho de perto que, com o olho espichado, bombeava, como se diz na
fronteira, o Alegrete, lhes falo como filho de Cacequi e que tantas e tantas
vezes, pelo trem, a gente se ilustrava esperando a chegada da Gazeta. O
fundador, Luiz Freitas Valle, governou o município do Alegrete de 1884 a 88, na
qualidade de Presidente na Câmara Municipal; foi líder do partido conservador
que se destacou na administração e na beneficência, recebendo o título de Barão
de Ibirocahy da Princesa Isabel; ainda antes da Proclamação da República
transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde se destacou como grande administrador
e líder comercial, tornando-se o primeiro Presidente da Federação das
Associações Comerciais do Brasil. Este título, Barão de Ibirocahy se fica,
hoje, na memória pela rua, pelo arroio que divide o município do Alegrete com
Uruguaiana passa a fronteira de Alegrete e, no lado de lá, em Uruguaiana, tem
um distrito com o mesmo nome. Ou fica ainda na música bonita, na poesia do vate
alegretense, quando falou na música “Guri”: “botas feitio de Alegrete e esporas
de Ibirocahy”. Conta-se que Luiz Freitas Valle era um homem de fidalguia tão
grande que quando Campo Salles saiu da Presidência da República difamado e malquisto,
de moto próprio promoveu, em função da amizade que lhe tinha, um banquete,
enfrentando os detratores e mostrando a fidalguia lá de Alegrete e que mais
tarde seu primo-irmão, Osvaldo Aranha levaria para outras fronteiras, como
vimos pelo belo audiovisual que assistimos, para a Organização das Nações
Unidas. A Gazeta de Alegrete, entrementes, se firmou como órgão informativo por
excelência da Campanha e da Fronteira, sobretudo sob a orientação e direção da
tradicional Família Prunes, cujos descendentes e herdeiros a dirigiram, de 1888
até 1944, por 56 longos anos. Nomes como José Celestino Prunes, Teotônio Cirino
Prunes, José Fredolino Prunes, Lourenço Prunes e Mário Lourenço Prunes, estão
indelevelmente ligados à Gazeta de Alegrete. Da mesma forma, está
indestrutivelmente associado ao jornal centenário e à informação rio-grandense
o nome do jornalista Heitor Galant que, de 1944 até os dias de hoje é o seu
diretor, juntamente com outros diretores e seu corpo dedicado de funcionários,
é a alma impulsionadora e dinâmica. Nesses 43 anos, Heitor Galant levou avante
não só a chama da tradição de um jornal respeitado e influente, mas ainda o
tornou uma potência informativa dotando-a de nova sede, redação e oficinas, bem
como associando-lhe dentro do mesmo grupo duas emissoras de rádio, uma AM e
outra FM. Se Antigüidade, por si só, não constitui mérito, não é menos verdade
que antigüidade, aliada à qualidade, dinamismo e espírito progressivo, é prova
de mérito superior, e até insuperável para simples novidade ou grandeza
material de um meio de comunicação mais recente.
Eu fico aqui a pensar, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, nas
dificuldades que enfrentam esses tantos que ao longo de 105 anos fizeram
circular a Gazeta de Alegrete. As dificuldades da matéria-prima para a
confecção do jornal, quem sabe muitas vezes até mesmo a matéria-prima da
informação. As dificuldades comerciais para manter o jornal funcionando, e até
é lícito que se indague por que no Alegrete surgiu, viveu, sobreviveu e existe
até hoje este jornal. Por que não na Capital, onde estão as luzes, onde o
interior todo busca o modernismo e matar a sede de sabedoria e de ampliação de
sua cultura. É porque, e eu mesmo dou a resposta, estas luzes são
proporcionadas por um combustível, e este combustível está lá nas canhadas, nas
coxilhas, nos pampas, nos rios e nos riachos do nosso Rio Grande, que é a força
do homem gaúcho que sabe fazer e que transferiu para a Capital do Estado, sem
deixar a sua terra sem o seu trabalho, sem a sua obra, transferiu para cá a
força, o trabalho e a dedicação. É por isto que a Gazeta sobreviveu e existe
até hoje. Se fizermos um levantamento dos jornais do interior do Estado,
veremos que surgiam aos milhares, como aos milhares se foram. Passaram como
passa o vento, uns assobiando mais alto, outros assobiando menos, mas passaram.
Mas a Gazeta sobreviveu e está aí. Sobreviveu até mesmo a um incêndio que lhe
destruiu um arquivo, inclusive, quase totalmente recomposto, mercê do esforço
daqueles que lá trabalham para recompor aquilo que já não é mais a história da
Gazeta, é a história da própria imprensa do Rio Grande. A Gazeta de Alegrete
alia de forma harmoniosa a antigüidade e a tradição com a inovação e o
progresso. Numa época em que muitos comunicólogos temem pela sorte da informação
impressa, frente ao poder avassalador dos meios eletrônicos, rádio e televisão,
a Gazeta aposta junto com outros grandes países do exterior, com o País, no
futuro da comunicação escrita, pensada e comentada. Enquanto o rádio e a
televisão são os instrumentos da formação instantânea em cima do fato, o jornal
se constitui na comunicação mais sólida, sedimentada e por isso mesmo mais
confiável. Além disso, como jornal de uma cidade, de uma região específica, a
Gazeta de Alegrete mantém vínculos comunitários e humanos muito mais estreitos
com seus leitores do que os grandes periódicos de circulação estadual ou
nacional. Nas suas páginas pulsam os ideais, os anseios, as avaliações e as
reivindicações diárias e concretas de uma sociedade que vive e sente seus
problemas e os transmite ao seu jornal com uma intensidade e uma autenticidade
que seria impensável num grande veículo de circulação nacional.
Por tudo isso, o aniversário mais que centenário da Gazeta de Alegrete,
é mais do que uma mera comemoração local. Ela é um exemplo rio-grandense, pois
tudo que é alegretense é gaúcho, aliás, gauchesco e brasileiro, como conta o
vate alegretense. Nossas congratulações e augúrios à Gazeta, a todos seus
diretores, jornalistas, repórteres, redatores, impressores, distribuidores,
enfim, a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, contribuem para a edição
deste importante veículo de comunicação, não só para Alegrete, como sobretudo
para a região, e de uma forma muito especial, para a própria imprensa impressa
em nosso Estado e no País.
Que o futuro da Gazeta de Alegrete seja tão ou mais brilhante que o
passado. É para isso, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Srs. Diretores da Gazeta
do Alegrete, que estamos aqui hoje, torcendo, saudando e esperando e,
sobretudo, confiando que a Gazeta será a cada ano que passa mais e mais
Alegretense, mas, sobretudo, mais e mais gaúcho. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Eroni
Carus, que falará em nome do PMDB e PC do B.
O SR. ERONI CARUS: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. Convidados:
“Não é nos largos campos ou nos jardins grandes que vejo chegar a
primavera. É nas poucas árvores pobres de um largo pequeno da cidade. Ali a
verdura destaca como uma dádiva e é alegre como uma boa tristeza.” (Fernando
Pessoa)
A verdura florescente dos temas que empolgaram o Brasil no século
passado, haveria de resultar promissora, com destaque, num recuado município da
fronteira meridional, o Alegrete, onde em 1º de outubro de 1882 fundava-se um
jornal determinado às lutas palpitantes do seu tempo.
Honrosa e cômoda a minha posição nesta tarde: falo ao jornal de minha
terra natal, na exaltação dos seus feitos e na reafirmação de suas verdades, ao
ensejo das comemorações dos 105 anos
de sua existência ousada e pertinaz.
E ao cumprir, em nome da Bancada do PMDB nesta Casa, a determinação de
te saudar, meu velho órgão lutador da boa causa, começo por te ver ao que
vieste, verberando, soberbo, à injustiça do cativeiro negro no Brasil.
Falo, também, por delegação da Ver.ª Jussara Cony, em nome da Bancada
do PC do B.
Luiz de Freitas Valle, o Barão do Ibirocahy, sagaz no seu espírito
visionário, concebeu a criação de um jornal dinâmico, que subsidiasse como
repositório das lutas populares, o esforço de uma sociedade que sacudia os
grilhões da opressão e teimava por transformações profundas nas estruturas do
seu embasamento sócio-econômico. Fê-lo com mestria. E as páginas da Gazeta de
Alegrete fizeram por si só os anais da nossa história, projetando, no final do
século passado, a abolição e a república, duas fulgurantes conquistas
nacionais.
Ibirocahy foi o gênio criador que balizou com a insenção de sua postura
as linhas de um jornal do interior que veio para ficar, enfrentando, como
natural, os céticos que de tudo duvidam e a tudo querem derrotar.
Luiz de Freitas Valle venceu como timoneiro do seu tempo e se largou
pelo Brasil afora, indo aportar no Rio de Janeiro, onde haveria de oferecer,
por igual, contribuição valiosa à comunidade em que se integrava.
O Jornal não parou e outros idealistas haveriam de lhe tomar o timão,
para prosseguir no seu trabalho.
Noventa e Três e Vinte e Três, dois lances épicos, onde mais uma vez o
Rio Grande chamava às coxilhas a disputa de contendas políticas, transitaram no
rubro sangue vertido pelos bravos, pelas páginas da Gazeta, testemunha ocular
dos bárbaros eventos que realçaram mas encheram de nódoa um pedaço da vida
republicana dos pampas.
A família Prunes, sucessora de Ibirocahy, por esses tempos e até 1944,
haveria de dar orientação segura ao Jornal, com José Celestino e depois José
Fredolino, na sua direção.
Honrosa e cômoda - realcei de início - a minha posição nesta tarde,
exatamente porque dos Freitas Valle e dos Prunes guardo a saga de um tempo,
contada em rodas - galponeiras. Estas duas famílias e mais a minha, engajadas
nos fica-pés Castilhistas e Borgistas, fizeram a mística de um partido e de uma
História.
Dr. Heitor Galant, advogado e jornalista, veio depois,mas trazendo
consigo o mesmo espírito e a mesma tenacidade, cujo nome, por igual é legenda e
é História.
Das linhas maragatas estendidas na casa de pedra de sua família, no
combate do Ibirapuitã, em 1923, remontam por certo, Dr. Galant, redividas, as
fortalezas que animam a sua conduta e sustentam o seu temperamento de homem
público e de jornalista teimoso, capaz de sustentar, num intrincado e adverso
campo, por tanto tempo, um jornal do interior.
De tal forma por esses tempos narrados a paixão malsã predominou nas
discussões interioranas, animando diferenças, que foi capaz de levar ao túmulo,
para todo o sempre, inimizades contraídas circunstancialmente, na reciprocidade
das intransigências. Resgato por lealdade, nos seus familiares que admiro, a
memória de João de Deus Barros Peres, cuja postura de jornalista apaixonado,
fez trepidante um longo pedaço da Gazeta de Alegrete.
Hélio Ricardi dos Santos e Samuel Marques da Silva, os dois timoneiros
novos, de um tempo novo, para dirigir com Heitor Galant um jornal antigo dentro
de uma conceituação evolutiva de um jornalismo puro, cujo dever é o de
divulgar, com isenção e imparcialidade, o dia-a-dia de tempos modernos, mas não
menos inseguros e difíceis.
A imprensa que a Gazeta de Alegrete exercita, de dimensão menor para
alguns, mas gigantesca para os que lhes têm animado em comunidade, sempre
pautou pela liberdade de opinião e foi vanguarda dos empreendimentos
progressistas da cidade.
Reafirmo, por pertinente, que hoje como ontem, vivemos dias graves e
difíceis, sobre os quais desabam uma gama de enormes problemas que remontam de
práticas que tolheram, desde a liberdade de imprensa, às prerrogativas do
Legislativo, até a autonomia estadual e federal.
Não basta termos a certeza de uma nova Constituição. A expectativa dos
progressistas - e nela deve estar situada a Imprensa - é a de que o estatuto
maior consagre duradouros dispositivos que permitam a estabilidade política e
econômica, no resguardo da paz social.
Estes encontros solenes, mais que o protocolo de estilo, devem
oportunizar à reflexão e reafirmar, por oportunos, os compromissos históricos
que herdamos do exemplo da Gazeta de Alegrete, visionário e permanente.
Sê-de coerente, hoje como ontem, com o chamamento do seu tempo: uma
infância escoalha, com fome, sem saúde e sem instrução, invereda pela criminalidade;
os párias da terra, pedem terra para trabalhar, alargando o submundo dos
favelados; a educação expulsa, já no primeiro grau, mais de 70% dos seus
pretendentes e a universidade, cada vez mais, é monopólio de instituições
particulares e caras que não oportunizam a democratização do ensino; nossas
relações internacionais, embora o esforço despendido, aumentam a nossa dívida
externa e alargam a nossa dependência, comprometendo a soberania do Brasil; a
alternância do Poder, que só a Democracia enseja, um dia concebida pela
inteligência de Tancredo, na conciliação, não teve o comprometimento desejado,
frustrada pela fatalidade que nos roubou o gênio e pela intransigência de
interesses políticos contrariados.
A hora é de reflexão e coragem. De que vale a paz que nos
confraterniza, se uma multidão não tem paz.
A veiculação dos temas, perdoem-me os que dele não se agradem,
preserva, por ética, uma postura política e pessoal, resguardando o Partido que
represento, na armadura de sua legenda - de lutas e na couraça de sua
resistência épica, provada em mais de vinte anos que construíram uma tradição,
que queremos preservada, custe o que custar.
Dr. Heitor Galant, meus caros Hélio e Samuel, vejam que idade que
avança não quebrou o ímpeto, nem arrefeceu o ânimo do jovem Vereador
alegretense, que um dia – e só por jovem - questionou a Gazeta, sabendo dela
aproximar-se neste estágio da cidade grande, conduto de saudades e de afetos.
Que outras coisas não se faz aqui, guiados por um bairrismo santo, que
não sejam, além das obrigações familiares, funcionais e políticas, a atender a
nossa gente, no principal das carências que aportam na capital.
E tem sido assim, por esta maneira, que se dignifica uma militância
inspirada no exemplo místico e atávico da terra.
Do promontório dos 105 anos de coerência e de trabalho, a Gazeta de
Alegrete fala a Porto Alegre, na minha e em todas as palavras que resplandecem
nesta tarde, por iniciativa do Vereador Pedro Ruas, um Fagundes do Alegrete,
que não desmentindo a estirpe tem sido um expoente de um clã que auxiliou na
construção da história da nossa terra.
Amiga Flora Fagundes, que valoriza o auditório - desta solenidade,
bendigo o filho que concebeste, réplica viva dos meus irmãos de embates
memoráveis, dos quais destaco o Ministro Aldo Fagundes e o Darcy, esse bom
amigo, boêmio e idealista, que teimou em fazer ronda, “num cipreste qualquer”,
para abreviar a minha chegada nesta Casa.
Fernando Pessoa que forneceu o mote do meu discurso, indicando a
primavera de um bosque pequeno, na imagem transplantada ao Alegrete de uma
época fecunda, onde tudo prosperou, não anda só na motivação dos idealistas.
Para terminar, busco o poeta de tantas verdades Vinicius de Moraes:
“... Há uma poça de sangue numa praça e um lavrador que foi
agredido...”
Mas esta realidade haverá de ser mudada, pela ação e pela palavra,
inserindo neste embate que é perene, a perenidade da atuação da velha Gazeta de
Alegrete, para que um dia todos cantemos a aleluia de paz e de tranqüilidade,
repetindo com Vinicius:
“... por uma pequena casa, por um jardim de frente, por uma menininha
de vermelho...”
Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Lauro
Hagemann, que falará em nome do PCB.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores
e Srs. Convidados: a comemoração dos 105 anos de existência da Gazeta de
Alegrete pode ensejar-nos reflexões profundas, porque um jornal é como se fora
uma criatura humana: tem um nascimento, cresce, se desenvolve, tem seu apogeu,
decresce, envelhece e morre. Assim como as criaturas humanas, os jornais têm
breve ou longa vida. E longa vida tem a Gazeta de Alegrete. Mais que
centenária. Fundada sete anos antes da Proclamação da República e seis anos
antes da Abolição da Escravatura a Gazeta do Alegrete contém, em suas páginas,
o repositório de uma longa trajetória da história deste Estado. E o Ver. Hermes
Dutra perguntava qual era o segredo da Gazeta do Alegrete. Ele mesmo respondeu,
mas eu acrescento, ainda, algo mais. A Gazeta de Alegrete permaneceu 105 anos
existindo, e ainda jovem, porque ela procurou sempre, durante todo este tempo,
refletir a vida da sua comunidade.
No moderno processo de comunicação que hoje estamos assistindo, os
antigos e os novos jornais das nossas localidades interioranas têm um futuro
assegurado, porque é nas páginas destes jornais locais que a sociedade se vê
mais diretamente refletida. Os grandes jornais de circulação nacional não têm
espaço para refletir a vida diária das pessoas que vivem em comunidade. Este é
o que me parece o segredo da Gazeta de Alegrete e de outros jornais que hoje
estão assumindo papel de vanguarda nas nossas localidades interioranas.
E a Gazeta de Alegrete, como todos os jornais, foi fundada sob a égide
da política. Um jornal é um ente político, como um homem é um ente político.
Ao longo de toda a sua trajetória de 105 anos deve ter forçosamente
passado por momentos de apogeu, de declínio, de vicissitudes e de glórias, mas
se manteve vivo. E este é o seu galardão. Como homem de comunicação e integrando
o Partido Comunista Brasileiro tenho dupla satisfação em saudar os 105 anos da
Gazeta de Alegrete. O que me preocupa e deve preocupar os dirigentes da Gazeta,
a partir deste instante, é o que será a Gazeta daqui por diante. Se a sua
direção permanecer fiel ao seu passado, a Gazeta terá, ainda, longa vida,
porque nós todos esperamos que ela permaneça fiel aos seus propósitos de
retratar a vida da sua comunidade e, por extensão, a vida deste Estado.
A Câmara Municipal de Porto Alegre, por feliz iniciativa do Ver. Pedro
Ruas, ao homenagear o 105º aniversário da Gazeta de Alegrete, ciumentamente,
toma emprestado um evento interiorano, para fazer dele também uma comemoração
da nossa Capital. A origem da proposta de um descendente dos Fagundes do
Alegrete, diminui um pouco essa nossa ousadia. Mas quero deixar registrado, com
muito orgulho, que espero que a Gazeta de Alegrete possa representar no futuro
e espelhar em suas páginas aquilo que nós todos almejamos para a sociedade
rio-grandense em geral e, sobretudo, para a sociedade brasileira como um todo.
Parabéns, Gazeta de Alegrete! (Palmas.) Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Raul
Casa, que falará em nome do PFL.
O SR. RAUL CASA: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs Convidados: o merecido realce com que a Câmara Municipal de
Porto Alegre registra o 105º aniversário da Gazeta de Alegrete está no que ela
representa para a comunidade gaúcha e brasileira. O dia 1º de outubro marca a
implantação de uma filosofia jornalística cuja proposta de trabalho anseia pela
verdade social em suas mensagens formadas nas mais gratas virtudes do caráter
gaúcho - a lealdade e o amor à verdade. Numa época extremamente difícil para a
imprensa de nossa terra - poderíamos até dizer traumática - a Gazeta de
Alegrete, sem avaliar sacrifícios, com espírito empreendedor, acreditando no
futuro, apostando no profissionalismo, arregimentando em torno de seus
linotipos e de seus microfones um grupo de idealistas, consegue, em mais de um
século, consignar para a história do jornalismo uma trajetória, flagrando
acontecimentos locais e internacionais, credenciando-se como uma das grandes
empresas jornalísticas do Estado. Justifica-se, pois, o orgulho e satisfação
com que o povo de Porto Alegre, através de seus representantes, expressa pela
feliz iniciativa - já foi dito desta tribuna - do nosso querido companheiro,
Ver. Pedro Ruas, e sente-se no indeclinável dever de, homenageando a Gazeta de
Alegrete, gizar este acontecimento, como um incentivo e estímulo nesta longa
caminhada. Imprimindo uma firme orientação, criticando, analisando, alertando
ou aplaudindo, é invariável o seu apego às normas morais e legais, fazendo de
suas páginas a prova real de que, com eficiência e justiça, o que se transmite ao
povo pode ser a expressão maior da liberdade e a maneira mais correta de se
exercer a democracia. O Grupo Gazeta tem se constituído em um magnífico exemplo
de uma empresa de comunicação que sabe claramente de sua influência no moldar o
estilo de viver, de pensar, de sentir e, sobretudo, de consumir de um povo. Por
isso, tem se mantido, ao longo dessa trajetória, num padrão ético que se
notabiliza pela nobreza de conduta consolidando-se, mercê dos consagrados rumos
que se revesam nas suas páginas e microfones, onde conceitos de experiências e
seriedade justificam a simpatia e a credibilidade granjeada da gente
rio-grandense. Foi por honrosa delegação e por lembrança do nosso estimado Dep.
Athos Rodrigues de tão fundas raízes naquela terra, e vendo aqui, neste
Plenário, além do Fagundes - me permite Ver. Pedro Ruas - , do Carus, do Martim
Aranha Fº e do Brochado da Rocha, ambos descendentes diretos, sobrinhos-netos
do peão do Alegrete, do grande Osvaldo Aranha que, por duas vezes, exerceu a
Presidência da ONU, permitam-me, os senhores, fazer uma revelação e, se me
permitam a jactância de dizer como conheci Alegrete: era Secretário do Dr.
Meneghetti, exatamente quando tivemos a Revolução de 64. Moço então, recebi uma
missão, de daqui até onde pudesse, em um avião, monomotor, panfletar tantas
cidades, quantas conseguíssemos. E foi o que fiz, junto com outro companheiro.
Me recordo que trágica ou comicamente eu abria a porta do avião com a mão
direita e com a esquerda jogava os panfletos. Sobre Cacequi os panfletos não
conseguiram abrir e caíram em cima dos telhados de zinco, uma coisa incrível
ver as pessoas correndo. Recordo que o piloto, vendo aquilo, disse que na
próxima cidade aterrisaríamos porque aquilo não podia acontecer. Aterrisamos em
Alegrete. Quando vi o fim da pista começou a aparecer soldado de todos os
lados, com metralhadoras e fui convidado, junto com o piloto e mais outro, a ir
até o quartel. Não sabia o que ocorria na cidade. Pelo que soube, mais tarde,
um dos grupos da cidade mantinha um acordo de que deveria manter a cidade
dentro dos padrões de ordem e disciplina, mas eu ignorava. Fui conduzido à sala
do comandante - jamais esquecerei esta cena - o Coronel que me recebeu com
poncho, fumando palheiro, de bigode e eu disse: “Coronel, o Jango já foi
embora.” Ele mexeu no palheiro, não disse nada. “O senhor está convidado a
permanecer aqui em Alegrete.” Aí, eu senti. Comecei a dar explicações. Resumo
da história: o Coronel Adão, que nunca mais vou esquecer, - estou revelando
isto pela primeira vez, - era na hora do lusco-fusco, como agora, disse: “Vocês
podem ir embora.” Nós resolvemos vir embora mais ou menos às 17 horas. Quando
chegamos perto de Cachoeira, os contatos com a torre eram proibidos, levantar
avião era proibido, qualquer tipo de movimento, começaram a perguntar quem
vinha. Só sei que acenderam a pista exatamente para um avião monomotor,
aterrisamos com um exército, tanques do lado, até o final da pista, e para
explicarmos quem nós éramos. Mas foi sensacional. E hoje, eu recordando isto aí,
eu que sou um homem que acha que a minha verdade pode não ser a verdade dos
outros, mas sendo a minha, estarei sempre ao lado dela. E assim foi que conheci
Alegrete. Fui para o gabinete do comandante, que soube, depois, era fiel ao Sr.
João Goulart e sofreu uma série de coisas, mas aquele homem me gravou muito
pela palavras que ele me disse e que guardo comigo.
Portanto, Alegrete, de uma certa forma, está também no meu coração. E
por isto, ao homenagear a Gazeta de Alegrete, seu grupo, seu diretor Heitor
Galant e os demais diretores que aqui estão, eu queria, exatamente, fazer este
registro para a História, a minha história, dizendo que me congratulo, que me
somo porque uma empresa que consegue sobreviver, da forma como vem fazendo a
Gazeta, merece o aplauso, merece o apoio, merece o respeito do povo de Porto
Alegre. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Antonio
Hohlfeldt, que falará pelo PT.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. Convidados: acho que esta Sessão ela é significativa não
apenas por que temos tantos companheiros da Casa com raízes no Alegrete, como
porque é um fato mencionado aqui de passagem que une as duas instituições: a
instituição Câmara Municipal de Porto Alegre e a instituição Gazeta de
Alegrete, que é a luta anti-escravagista. E se a Gazeta marcou a sua linha
nesta luta, esta Casa também marcou a sua atuação ao final do século passado
tendo igualmente liberado os escravos de Porto Alegre, bem antes que se fizesse
a libertação da escravatura em nível do Império.
Imaginava e me lembrava, inclusive agora ouvindo o Ver. Raul Casa, das
tantas e tantas vezes em que fui ao Alegrete. Não tive aventuras assim, por que
estaria provavelmente do outro lado, neste episódio. Mas estou vindo do
Alegrete há cerca de um mês, quando tive oportunidade de participar da Feira do
Livro promovida através do Centro Cultural e recebido com um carinho, com
entusiasmo, com uma verve incrível pela Dona Zilá, Secretária Municipal de
Educação e Cultura. Tive oportunidade de participar da inauguração da
Biblioteca Infantil do Centro Cultural como um autor que vem tentando escrever
algumas coisas para as crianças; e tive ocasião de me encontrar com o Prefeito
Nilo Gonçalves. De maneira que acho que cada um de nós aqui poderia relembrar
fatos que nos ligam, senão pelas raízes, nas passagens várias pela cidade do
Alegrete. E no caso da Gazeta, Dr. Heitor, durante a campanha eleitoral do ano
passado, foi das dezenas de cidades que visitamos, foi na cidade do Alegrete
que encontramos uma prática realmente democrática. Na vitrina da empresa,
espaço livre para o santinho de todos os candidatos estava lá, inclusive, o
hoje Deputado Athos Rodrigues, estavam lá os nossos companheiros do PMDB, PDT,
até eu estava lá, de repente com santinhos, junto com nossos companheiros do
PT. Eu acho que aí está, na prática, o exemplo da democracia, de se abrir o
espaço a todas as correntes de opiniões. E foi inúmeras vezes que indo,
inclusive, em campanha eleitoral do ano passado, estive em Alegrete e tive
acesso às emissoras ligadas ao Grupo Gazeta.
Mas, Srs. Homenageados, minhas Senhoras, meus Senhores, quero trazer,
aqui, uma reflexão que sempre me preocupa, na medida em que sou um profissional
de imprensa, que continuo militando nessa área, ao longo de 20 anos. E, é
exatamente o papel dessa imprensa. O papel que, quando nós indagamos a respeita
da responsabilidade, se tem unanimidade em dizer que os meios de comunicações,
a imprensa, especialmente, ela é, fundamentalmente, transmissora de informações
que contribuem para moldarem os comportamentos e incentivar a sociedade a tomar
decisões, em face de acontecimentos que a envolvem direta e indiretamente.
Portanto, a profissão de jornalista deve levar, em nosso entendimento, a
consciência, porque essa responsabilidade extrapola o ser da imprensa enquanto
uma empresa deve ser também e, principalmente, a responsabilidade de jornalista
enquanto profissional.
Nós, jornalistas ligados ao setor de informação, precisamos estar
sempre preparados para unir ao cotidiano, o corriqueiro, pensarmos e nos
movermos rapidamente frente a uma novidade, a uma bomba jornalística como foi,
por exemplo, o caso do Presidente Tancredo Neves, sua hospitalização. O momento
nos obriga a pensar rapidamente e avaliar, diante das informações, o que deve e
pode ser transmitido, enquanto notícia, ao público, deve-se comentar, tecer
comentários sobre o fato, ou limitar-se às informações iniciais oficiais e
assim por diante. E o problema é que essas decisões são tomadas a princípio e
quase sempre individualmente, muitas vezes por alguém que está de plantão ao
longo da madrugada controlando o telex, controlando uma outra emissora que
podemos usar eventualmente como fonte das transmissões ou do noticiário no dia seguinte.
Sabemos, por exemplo, que muitas vezes surgem aqueles repórteres ávidos
pela primeira página, para firmarem seus nomes, fazerem carreira e muitas vezes
disso resulta inclusive o mau jornalismo sensacionalista que termina envolvendo
a população. E quando indagamos, inclusive, quando nos preocupamos com a
questão sobre como deve ser o jornalista, quando nos colocamos neste problema
profissionalmente a nós mesmos, aos nossos alunos, em uma cátedra nos cursos de
jornalismo onde temos atuado ao longo dos anos. Como poderemos alcançar aquele
jornalismo que tem se desenvolvido ao longo do tempo entre nós? Perguntamos que
tipo de responsabilidade podemos e devemos ter? E me parece que a resposta é
simultaneamente simples e extremamente difícil, porque me parece que a resposta
não permite um adjetivo mas responder apenas: temos de ser jornalistas. Isto
pode parecer sentencioso e de fato é, no sentido de que ser jornalista é ser
competente, qualificado para avaliar exatamente o momento, a responsabilidade,
a conseqüência e como vamos passar por todos os interesses e as forças
contrárias que, eventualmente, buscam evitar a informação ou, ao contrário,
querem promovê-la de qualquer forma. Essas reflexões quisemos trazer a este
Plenário no momento em que comemoramos os 105 anos da Gazeta do Alegrete. E é
uma reflexão, no nosso entendimento, oportuna porque esta tem sido a marca,
exatamente, da Gazeta, a capacidade de, através daqueles que concretizam uma
empresa jornalística, os seus jornalistas, optar pelo melhor caminho, mantendo
a bandeira da liberdade de pensamento e da independência da consciência,
posturas que traduzem, sem dúvida nenhuma, a seriedade com que a equipe de
trabalho ao longo deste tempo, sempre atuou. E como alguém aqui já mencionou,
permite que um jornal, sobre o qual normalmente se diz que fica velho, 24 horas
depois de sua edição, se torne uma fonte fiel da pesquisa histórica. E este eu
acho que é um dado de avaliação. Quando o historiador é capaz de encontrar num
jornal dados que lhes permitirão recriar um tempo e uma memória, então nós
temos realmente um jornal que cumpriu a sua missão. E isto me parece que foi
possível na Gazeta, porque, respeitando o leitor, a Gazeta do Alegrete jamais
se furtou a ter opinião, expressando esta opinião com absoluta clareza, de tal
maneira que o leitor possa compor a sua, concordante ou não com a do jornal que
tem em mãos.
Neste momento em que nós, inclusive, enfrentamos, nós, profissionais de
imprensa, uma luta fundamental ao nível da Constituinte, para garantirmos o
reconhecimento da nossa profissão, esta homenagem, no nosso entendimento, ganha
um significado político. Já mencionava aqui o Ver. Lauro Hagemann, profissional
da área, com larguíssima experiência, que o desafio de um jornal do interior é
tanto maior na medida em que deve buscar o equilíbrio entre a informação geral
e a informação local. Pois eu diria que neste momento da Constituinte a Gazeta
de Alegrete e esta homenagem reafirmam o necessário orgulho que nós
profissionais de imprensa devemos ter em defesa da nossa profissão, uma
profissão que exatamente permite que jornais como a Gazeta sobrevivam ao longo
do tempo.
Por isso, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Srs. Homenageados o nosso
registro, a nossa participação obrigatória nesta Sessão. Em nosso nome pessoal,
do nosso companheiro Deputado Federal Olívio Dutra, que inclusive participa da
Comissão de Redação, dos nossos companheiros da Assembléia Legislativa porque
tivemos e temos tido espaço para nos pronunciarmos através da Gazeta, o nosso
abraço e a nossa certeza de que talvez dentro de 100 anos, como dizia o
Fagundes, no registro do audiovisual: outros, que não nós, estaremos numa
Sessão semelhante talvez nesta Casa, também, a comemorar e a dizer desta
fidelidade da Gazeta a sua História, da verdadeira liberdade de imprensa que a
Gazeta traduz no respeito ao trabalho profissional, na afirmação da profissão
do Jornalista e na garantia da opinião democrática. Sou grato. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr.
Adão Faracco.
O SR. ADÃO FARACCO: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. Convidados: tenho a dupla honra de falar, neste momento,
nesta Sessão, nesta grande Casa, que é a Câmara Municipal de Porto Alegre,
representando o Sr. Governador Pedro Simon e, ao mesmo tempo sem deixar de
representar - e por isso honra-me também - essa comunidade alegretense de onde
provenho, em nome de quem trabalho aqui, nesta Capital, para todo o Estado do
Rio Grande do Sul, na condição de Secretário de Estado.
Depois de tantos e tão belos discursos, certamente, não é necessário
acrescentar qualquer referência sobre o significado desta Sessão. Manda o
protocolo, entretanto, que quem representa a autoridade maior em seu nome fale.
Falo, mas sem deixar de representar, também, as minhas origens, e lhes digo,
apenas algumas reflexões que me parecem justas neste momento, em que
alegretenses lotam esta Casa, e ao mesmo tempo, alegretenses nos ouvem lá das
plagas do oeste rio-grandense, através das ondas da Rádio Gazeta.
Realmente é significativo estarmos aqui, numa homenagem na Capital do
Estado, algo que é nosso, muito nosso, a Gazeta de Alegrete.
A Gazeta do Alegrete que nasceu pelas razões já indicadas, enfrentou a
problemática dos tempos, venceu todas as paradas que se lhes apresentam no
curso deste século, em mais cinco anos. Certamente difícil será prosseguir,
como foi difícil vir até aqui. E tal como Alegrete e sua gente venceram todas
essas questões próprias da vida, saberão enfrentar, equacionar e vencer os
próximos obstáculos.
Cada um dos oradores falou a seu jeito e disse coisas lindas de se
ouvir, especialmente sendo nós de lá, meus conterrâneos, e por ver que eles
estão falando verdades, que sensibilizam a gente, que gostamos de ouvir.
Foi muito boa e valiosa a intenção e a iniciativa do Vereador Ruas,
seguida pelo voto dos demais, dando margem a que se realizasse esta Sessão de
tanto valor cultural, porque cultural é o fato que aqui se comemora. Fato que
tem raízes tão profundas lá na nossa gente do Alegrete, o aniversário da
Gazeta. E nós, espelho da Gazeta. Assim sendo um verdadeiro amálgama que somos:
o jornal e a gente. Um amálgama de história, de sociologia e de afeto. De afeto
é a relação maior. Nós gostamos da Gazeta. Nós queremos bem a Gazeta. Nós somos
a Gazeta e a Gazeta é nós. E assim tem sido e será.
Tão linda foi a Sessão pelas manifestações diversas dos oradores
relembrando fatos aqui e acolá que faz com que a gente pense, também, como se
falava há pouco, no processo constituinte de hoje. A Gazeta está sendo testemunha
e está expressando em suas páginas este fato, como expressou também o que foi o
significado da Constituinte de 1946 e da de 1891. Densidades históricas
expressam estas páginas e para citar as constituições democráticas que tivemos
e que, certamente, atual será uma a mais. Interessante relembrar os fatos da
história em função de um fato vivo da história e que nos diz respeito tão de
perto como este que inicia com aquele audiovisual encantador, surgindo da
técnica formidável do Sena, com aquela voz menos encantadora do Darcy, tão
presente sempre. Hoje, é para nós o traço maior de ligação com o jornal, o
afeto. O afeto, sim. Tudo isto toma um sentido de tanto significado, minha
gente, e com a contribuição de cada orador tornaram-se até leves aqueles trancos
e barrancos de 64, contados aqui pela Casa. E eu me lembro daquele fato. Era
Vereador e Presidente da Câmara, nos fáceis anos de 64, 65 e 66, Erony Carus,
companheiro das refregas que enfrentávamos, a borrasca de então. E como agora,
naquela época era forte a caixa de ressonância como a gente com orgulho define
as Câmaras, era lá no Alegrete, naqueles tempos.
Meus caros porto-alegrenses e alegretenses que aqui se encontram. Que
bom estar com vocês num momento de tanto significado que me permito repetir, e
de lá para cá, também, de amálgama com a história, com a sociologia e com
afeto. Já, nesta dimensão, não só apenas da nossa Cidade do Alegrete, mas,
aqui, deste estuário imenso que é Porto Alegre, de toda esta terra maravilhosa
que é o Rio Grande.
Em nome de seu governante, Pedro Simon, eu por ele e por seu governo me
congratulo com a iniciativa da Câmara e do autor e, conseqüentemente, a
comunidade gaúcha aplaude o seu ato. E por ser alegretense digo: ato de justiça
a um fato do significado que vocês mesmos mencionaram como grande, como
grandioso, quem sabe, e que a todos nos alegra. Por isso, com a sinceridade que
marca a alegria sadia, nós concordamos com vocês. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr.
José Roberto Ramos.
O SR. JOSÉ ROBERTO RAMOS: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. Convidados: mais uma vez a direção da Gazeta de Alegrete me
concede a elevada honra de agradecer a homenagem de que é alvo a luminosa
trajetória da Folha criada pelo gênio de Luiz de Freitas Valle, o Barão de
Ibirocahy.
Transfiro esta honra, humildemente, a todos os meus colegas, de ontem e
de hoje, que ajudaram de alguma forma, na construção desta magnífica história,
escrita com tenacidade, audácia, coragem.
Que sejam minhas primeiras palavras, Senhor Presidente, Senhores
Vereadores, de saudação a este Parlamento Municipal, a esta Casa, que,
recentemente, completou 214 de luta permanente, de trabalho, de amor a esta
Cidade e sua gente.
Quando a primeiro de outubro de 1882, pelo idealismo, pela dedicação,
de Luiz de Freitas Valle, a Gazeta de Alegrete chegou as mãos dos alegretenses,
já trazia, estigmatizada pela inteligência, descortínio e visão de seu altivo
fundador, a segurança da perenidade.
As velhas exortações pela liberdade dos cativos, levantadas desde o
século 18 pelo Padre Ribeiro Rocha e transmitido por Muniz Barreto e José
Bonifácio ao período de Dom João VI e à época da Independência, vieram
ressurgir de forma decisiva no decorrer do segundo Império.
A Abolição foi o passo inicial para a instalação da República, unindo,
logicamente, os dois princípios num mesmo anseio de Redenção humana e Nacional.
Freitas Valle escreveu com letras de ouro o nome de Alegrete e da
Gazeta, nesta luta pela libertação dos escravos.
Não é demais afirmar-se que a vida deste País, suas conquistas, suas
lutas, suas amarguras, suas alegrias, foram escritas pelas colunas de nossos
jornais.
É verdade, senhores, que a existência da nacionalidade está marcada em
cada passagem, em cada ruptura, em cada desvão da história por esta
luminosidade dos homens que com a força de sua pena e de sua inteligência, de
sua vocação literária, não se conformam em amaldiçoar a escravidão.
O homem é alguma coisa mais do que consumidor do pão. O homem tem
necessidades de pão, mas tem, igual necessidade de liberdade, de valores
intrínsecos a sua condição humana.
Perante este Parlamento vos afirmo, que nada nos afasta portanto, da
sólida e definitiva convicção de que a imprensa pode e deve ser um instrumento
permanente da conquista da liberdade.
Talvez a única razão para a existência de uma instituição como a
imprensa é a de espalhar o maior número de pessoas, as idéias e os ideais, que
animam pessoas conscientes de que podem contribuir para o bem do maior número
de cidadãos.
Temos consciência, senhores, de que a ação da Imprensa Livre, é capaz
de abalar o muro da tecnologia e da indiferença olímpica que costumam ser o
apanágio de administradores que manipulam números e estatísticas, mas que
desconhecem a verdadeira face das pessoas sofredoras. Somente a Imprensa Livre
e soberana pode fazer chegar aos técnicos e burocratas o grito dos
desempregados, o choro das crianças com fome, o sofrimento dos doentes sem
assistência social.
Permita-me Senhor Presidente, Senhores Vereadores, minhas senhoras,
meus senhores, que vos afirmo aqui, que o Jornal e o Parlamento se completam
com órgão fiscalizador e como veículo que agasalha os sentimentos populares,
onde esta Casa, pelo trabalho, é extraordinário exemplo.
Parlamento e Imprensa, identificam-se num único e inquebrantável
instrumento do permanente resguardo das liberdades democráticas.
Repito aqui o que disse em 1º de Outubro, em solenidade semelhante na
Câmara Municipal de Alegrete: “Nenhum vendaval de paixões ou sectarismo deverá
ser capaz de romper a harmonia dos que coesos, sob a bandeira das aspirações do
povo, persistem na construção de uma sociedade livre, solidária e feliz,
protegidos pelo manto da paz e da concórdia.
Imprensa e Parlamento não podem cessar suas lutas pela Justiça Social.
Repito: não queremos o silêncio da miséria, o clamor dos famintos. Nossos
objetivos visam o bem estas coletivo, o desenvolvimento do social, o direito e
a liberdade para todos.
O Parlamento deve funcionar, sempre, soberanamente, para poder
desempenhar suas elevadas funções na garantia da estabilidade democrática.
Somente a plenitude do exercício parlamentar é condição inquestionável
para estabelecer uma Nação alicerçada no direito e na Lei.
Parlamento e Imprensa tem a sagrada responsabilidade de velar pela
supremacia dos direitos do homem.
A solidez da Gazeta de Alegrete, hoje, mesmo enfrentando as mesmas
dificuldades de todos, se deve ao entendimento de que tinta, papel, chumbo, sem
falar no universo social e humano, se paga com dinheiro.
Esse ponto de equilíbrio entre o sucesso econômico e o êxito
jornalístico só podem ser notados por aqueles que, no comando de uma empresa do
comunicação, além do treinamento específico e objetivo para tomar decisões de
cunho comercial e financeiro, tem incorporado ao seu comportamento pessoal a
atitude subjetiva de preservar os valores da instituição.
É certo que a Imprensa só pode existir no regime da Livre Iniciativa,
seja ele puramente capitalista, seja capitalista democrático. A detenção dos
órgãos de comunicação pelo poder político, invalida-os neutralizando este
poder.
Brilha, senhores, no alto desta homenagem que ora se presta a Gazeta de
Alegrete, o grande nome da Imprensa. Não a elegeu a confiança dos pretensiosos,
nem o orgulho de fortes, mas o amor de convencidos pela sua aspiração
predileta, a supertição de crentes na sua esperança antiga e pertinaz.
Encaramos o jornalismo como um sacerdócio. O ideal será sempre tanto
mais poderoso quanto mais alongado, eminente e árduo.
Do entendimento deste sacerdócio é que há de cair o raio de sol, para
nos sanear cada manhã o ambiente de trabalho. Por mais que de tão sublime
altura nos distanciem as profanidades da prática, as suas buscas subalternas,
nesse ponto de orientação haveremos de ter constantemente os olhos encarando a
imprensa como escola, um magistério, a cultura cotidiana do espírito público,
ministrada sob o voto de professar a verdade, ensinar o belo, advogar o bem.
Agradeço, senhores, a homenagem desta Casa. Ela é gratificante. Mais do
que um fruto bom, gerado pelo talento, pela inteligência, pelo reconhecimento
generoso, deste extraordinário e jovem Vereador, Pedro Ruas, esta homenagem, na
grandiosidade política desta Casa, amplia o gesto e a torna, pela força da
representatividade popular, a homenagem de todos os porto-alegrenses.
Permita-me, Senhor Presidente, que ao agradecer os discursos dos
Senhores Vereadores, agradeça também, a honrosa presença nesta solenidade, da
família alegretense, de autoridades de nosso município, tendo a frente o Dr.
Nilo Soares Gonçalves, Prefeito Municipal, cuja honestidade, dignidade, a bem
poucos dias o Rio Grande aplaudiu.
Acredito, Senhor Presidente, Senhores Vereadores, autoridades, que
aprendemos juntos, nesta lição belíssima, que o Parlamento Municipal nos dá,
mais uma vez de consideração ao passado, à perseverança, a tenacidade, às
lutas, projetando, perante a história, a existência da Gazeta de Alegrete.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Na qualidade de Presidente
da Câmara Municipal de Porto Alegre, cabe-me, neste momento, dizer que o
Requerimento de número 50/87, datado de 13.05.87, o Sr. Ver. Pedro Ruas trouxe,
não só para esta Câmara, a História de um jornal, nós que vemos com apreensão a
vida dos meios de comunicação no País, trouxe também a oportunidade de
vincularmos a História de Alegrete, quase, Sr. Prefeito, confundindo esta Casa
como se fosse a Câmara Municipal de Alegrete, num furto não qualificado, não é,
Dr. Ruas? -, mas não intencional, mas a verdade é que esta Cidade de Porto
Alegre, Sr. Prefeito, é povoada por muitas pessoas que advieram das terra do
Alegrete. Por tudo isto, o requerimento singelo do Ver. Pedro Ruas pôde ensejar
que não só nós traçássemos o perfil do jornal, mas também que confundíssemos
este jornal com a história de Alegrete e mostrasse que a imprensa quando bem
exercida confunde-se à imprensa, o jornal e a sua própria cidade e a sua
própria identidade.
Permito-me, já que ousadias brotam neste Plenário e muito, como bem
assimilava o nosso preclaro Ver. Lauro Hagemann em seu discurso: esta Câmara em
verdade, trazendo a gente do Alegrete, tentava reconstituir em pouco da nossa
história e animarmos a todos nós, numa ousadia nossa, abrigando tantas pessoas
do Alegrete, repito, nos dar ânimo a continuar nas nossas lutas, as lutas que
aqui foram traçadas e tão bem ditas pelos oradores que me antecederam. Até
mesmo tivemos oportunidade de ouvirmos um ex-Vereador de Alegrete, Ver. Erony
Carus que em verdade conhecia seus discursos mais pelos discursos anônimos que
ele fazia para outros, do que seus próprios, e deu-nos hoje a oportunidade de
deixar, nos Anais da Casa, um discurso firmado por S. Ex.ª, de vez que eu os
conhecia feito para outros dizerem, e hoje tivemos a oportunidade de assim ouvir.
De certa forma, a cidade de Porto Alegre, pelo seu Legislativo agradece
aos senhores. E podem crer, Sr. Prefeito, Sr. Diretor Dr. Galant, que o jornal
de Alegrete soube retemperar o ânimo de nós, porto-alegrenses. E quero crer que
requerimentos desta ordem como o de nº 50/87, do Ver. Pedro Ruas para
homenagear a Imprensa, façam com que possamos homenagear uma cidade, mas
podemos também homenagear aquilo que de mais caro representa na nossa história.
Como disse, há de ousar no dia de hoje, porque todos ousaram, diria que
efetivamente a história do jornal juntou-se à história de uma cidade e quase
formou a história do Rio Grande, que esta Sessão acolhe.
Por último, é verdade que muitos gestionaram pela Gazeta do Alegrete,
mas acredita essa presidência que, tendo em vista o seu passado, a sua gente e
as suas tradições, este Jornal chegou aos seus 105 anos exatamente pela
valentia da gente e a grandeza da terra do povo de Alegrete. Acredito nisso
firmemente, desprezando até mesmo os conceitos mais técnicos e desprezando
outros conceitos que são altamente respeitados e sem desfazer, em qualquer
momento, dos presentes ou dos passados ou dos futuros mandatários do Jornal; um
jornal é sempre o reflexo de sua gente e de seu povo. Por isso, a Gazeta de
Alegrete é grande, e ela hoje recebe a Homenagem da Casa do Povo de Porto
Alegre, fazendo dessa homenagem quase uma história que fica na nossa Casa
registrada.
Agradeço sensibilizado a todos os Senhores, agradeço sobretudo a
presença do alegretense, Dr. Adão, que em verdade, representando o Governador,
trouxe a esta Casa não um ato municipal, mas um ato estadual, quando se festeja
o órgão de comunicação de Alegrete, está se festejando em verdade o Rio Grande
do Sul.
Assim sendo, uma vez mais agradeço os Senhores e as Senhoras aqui
presentes.
Estão encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 19h01min.)
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